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Atualizado: 06-12-2023 | Tempo de leitura: 3 minutos

Juiz apresenta balanço da violência recorde 2016 em Coité

O juiz de Direito da Comarca de Conceição do Coité, Gerivaldo Alves Neiva, fez uma balanço detalhado da violência no ano 2016 no município. O magistrado que está a cerca de 20 anos, frente a Comarca coiteense tem acompanhado os casos que envolvem toda comunidade.
A violência em Coité começou dar os primeiros sinais que poderia bater recorde histórico no primeiro quadrimestre do ano 2016, quando estava apenas no mês de abril e já tinham sido registrados 10 homicídios. Na ocasião Dr Gerivaldo tratou o problema numa reportagem aqui no CN  como: “Mortes anunciadas”. Não sua previsão outros 20 jovens seriam assassinados a partir daquela data e que os mesmos seriam pardos, ou negros, moradores dos bairros dos Barreiros, Açudinho, Pampulha, Jaqueira, Casas Populares ou Mansão.
Na ocasião muita gente ficou chocada com a reportagem, mas hoje, pode se afirmar que a previsão do juiz foi abaixo do que na realidade ocorreu, pois, ele previa 30 assassinatos e fechou em 36. Talvez se fizer um enxugamento de cada situação seja reduzido para 29, tirando dois casos de corpos de dois jovens encontrados em estado de decomposição e outros cinco em confronto ou resistência com a Polícia, sendo que dois desses casos estão sendo investigados, as morte de dois jovens de Salgadália. Vale ressaltar que não está nesse relatório abaixo escrito pelo juiz e outras duas mortes, cujas vítimas, após sofrerem tentativa de homicídio logo nos primeiros meses do ano, morreram em hospitais de Feira ou Salvador, totalizando 38 casos.
Em Serrinha, municipio com população maior e que sempre teve o número da violência superior a Coité, em 2016 teve apenas a metade em relação a Coité, ou seja, 18 homicídios.
Veja o relatório na íntegra
Conceição do Coité: crimes e violência em 2016
Gerivaldo Neiva,
Juiz de Direito da Comarca de Conceição do Coité (Ba)
I – O CRIME NA SOCIEDADE ATUAL
O fenômeno da violência urbana está intrinsecamente relacionado com o crescimento desordenado das cidades, pelo forte apelo consumista divulgado pela grande mídia, pela falta de oportunidades sociais (saúde, educação, esporte, cultura, lazer, trabalho etc) para os jovens e, sobretudo, pela forte desigualdade social que caracteriza a sociedade brasileira. Logo, Conceição do Coité não está imune ao fenômeno da violência urbana, pois também é uma cidade caracterizada por grande desigualdade social, bairros historicamente abandonados pelo poder público e ausência, por décadas, de políticas públicas voltadas para os jovens dos bairros periféricos.
Em verdade, Conceição do Coité é uma cidade marcada por fortes contrastes sociais e econômicos. De um lado, a cidade conta com um centro bem urbanizado e aprazível, mas apesar das intervenções do último governo continua carente em equipamentos urbanos destinados ao esporte, cultura e lazer de um modo geral. De outro lado, este centro urbanizado e aprazível é cercado por bairros historicamente abandonados e absolutamente desprovidos de condições dignas de moradia e de vida para suas populações. Por fim, como tantas outras, a cidade de Coité também se formou sob a égide de um modelo urbanístico excludente, elitista e preconceituoso.
Em consequência, soa como utopia imaginar que a cidade de Conceição do Coité permaneceria imune ao fenômeno da violência urbana e de todas as demais intercorrências causadas pelo modelo de cidade e de desenvolvimento ocorrido nas últimas décadas. Na verdade, vivemos hoje exatamente a consequência das escolhas do passado. Desprezar a educação, por exemplo, como dito há muito tempo por Darcy Ribeiro, resultaria na necessidade de construção de mais presídios, pois sem educação de qualidade outra opção não restaria aos jovens senão o caminho da marginalidade.
Por fim, não se trata de apontar culpados ou transferir responsabilidades, mas de convidar a todos para um exercício de reflexão sobre o fenômeno da violência urbana, tendo como pano de fundo a história, a cultura e as condições econômicas e sociais do espaço em que vivemos. Análises simplistas do tipo “a culpa é das drogas”, “pau que nasce torto morre torto”, “bandido bom é bandido morto”, por exemplo, em nada contribuem para a compreensão do problema. Na verdade, o uso de drogas por esta juventude desnorteada é muito mais consequência do que causa da violência e, de outro lado, nenhuma pessoa nasce para cometer crimes ou destinadas a morte violenta. Somos todos humanos, sujeitos de direitos, protegidos por garantias constitucionais e, segundo a religião predominante, todos filhos do mesmo Deus!
Com efeito, o perfil da escolaridade das pessoas presas no Brasil demonstra claramente a importância da educação na construção da personalidade e da cidadania. Evidente que não se pode afirmar que todos os analfabetos ou com baixa sejam “bandidos”, mas é claro perceber que as pessoas que cometeram crimes e que estão presas tem baixa escolaridade. Isto é fato!
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