Imagem: Jeff Bottari/Zuffa LLC via Getty Images
Virna Jandiroba tinha 15 anos quando recebeu o primeiro convite para competir fora de Serrinha, cidade em que morava na Bahia, a 175 km da capital Salvador. Mas o que poderia ser tratada como uma grande oportunidade aterrorizou a cabeça da jovem que havia acabado de perder sua irmã Laiane, de 21 anos, vítima de um câncer no estômago.
Virna adquiriu síndrome do pânico e hipocondria durante o luto. Viajar para competir era dar oportunidade para que uma crise aparecesse na frente de todo mundo. Mas ela foi. E viajou mais uma vez depois. Até que o jiu-jitsu passou a ser um aliado no controle da doença.
Atualmente com 31 anos, Virna Jandiroba agora é lutadora do UFC. Ela segue fazendo terapia para lidar com a doença e o medo das derrotas. "É algo muito importante para você tratar, e eu tratei muito isso na terapia. É algo que todos vamos passar, não só na luta, como na vida. A gente tem que lidar bastante com isso".
Em conversa com o UOL Esporte, Virna deu seu relato sobre os problemas de ansiedade e como fez para controlá-la.
A Crise
"Depois de tanto tempo fazendo análise, hoje eu compreendo que era uma criança ansiosa. Não era como as outras. Mas foi quando a minha irmã morreu que as coisas pioraram. Eu comecei a sofrer com crise de pânico e ansiedade generalizada. Foi quando percebi que tinha que me tratar e que, provavelmente, teria que lidar com isso pelo resto da minha vida.
No começo, eu não sabia o que estava acontecendo. Depois que a minha irmã morreu de câncer, eu me tornei hipocondríaca e comecei a achar que as pessoas ao meu redor estavam doentes e iam morrer. Meu coração acelerava, ficava super ansiosa e tinha as crises. Eu ficava pensando que estava tendo um infarto, que ia morrer.
Ia ao pronto-socorro sempre que sofria as crises. Foi em uma dessas vezes que um clínico geral me disse: 'você não está doente, está em um processo de ansiedade'. Eu fui estudar para saber o que era, e passei a não ter medo de sentir isso, porque quando você passa a ter medo de sentir, é aí que fica mais forte.
A morte da minha irmã não foi a minha primeira experiência traumatizante. Quando eu tinha uns oito anos, uma tia minha também morreu de câncer, e eu acompanhei o sofrimento da minha mãe. Foi traumatizante. É algo que me acompanha ainda, mas eu lido melhor agora".
O auxílio na luta
"Fui ficando muito independente com a ansiedade. Meus pais nem sempre podiam ir comigo ao pronto-socorro, então ia sozinha. Mas sempre que estava passando pela crise, falava para eles. Às vezes eles não entendiam muito bem, até porque era algo novo, ninguém entendia como funcionava.
Nessa época, eu sofria crise o dia inteiro. E quem está de fora não consegue entender algo assim. Às vezes, sobrecarregava. Acho que quando você fala que está passando por uma crise de ansiedade, as pessoas pensam 'ah, está bem, é só ansiedade'. E não é assim, você tem que tratar essa ansiedade.
E foi a luta que me ajudou bastante a passar por esse período difícil. Durante os treinos de jiu-jitsu, eu não ficava pensando que meu coração estava acelerado. Eu só estava vivendo.
A minha primeira oportunidade de viajar para competir apareceu bem no período em que ainda tentava lidar com a ansiedade. Era uma viagem para Paulo Afonso, cidade no interior da Bahia. Eu ficava com muito medo: 'e se eu tiver isso? E se eu sentir isso lá? Todo mundo vai ver'. Ficava com essas questões na cabeça.
Mas a vontade de competir foi mais forte. Eu fui e foi ótimo. Adquiri segurança para lidar com a ansiedade, porque fui relaxada, me diverti. Enfim, fui vencendo. Então o jiu-jitsu me ajudou nisso. Fiz minha primeira viagem e não senti nada, a segunda também. Isso me deu mais segurança e resiliência.
Quando eu tenho uma crise agora, eu sei que ela vai passar. É só uma fase".
Fonte: UOL